Um pouco de putaria é necessário em toda vida para a manter normal, saudável.
D. H. Lawrence
Seis de setembro: no mais lânguido dos meses, o dia mais lúbrico.
É a data mais sensual do ano, em que o dia lambe as partes do mês enquanto o mês suga as saliências do dia — tudo pelo simples desejo do gosto, do prazer, a única reciprocidade verdadeiramente possível: o honestíssimo 69.
Neste seis do nove, cogitemos, pois, transar: seja em honra à efeméride, seja porque ainda damos conta. A título de um, digamos, “estímulo preliminar”, quatro anedotas alusivas ao ato.
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A introdução
Eu tinha dezessete anos.
Estávamos numa festa noturna na praia; uma banda de segunda tocava Proibida pra mim pela terceira vez; a mulher ao meu lado parecia ter o dobro da minha idade.
A certa altura, ela perguntou como quem tencionasse tomar decisão: “E o que você vai ser quando se formar? Digo, se não conseguir vingar nesse negócio de ser escritor.” Não pude parar para pensar.
Não sei se emocionado com a música, não sei se emocionado com a Kaiser, acabei respondendo de primeira, suspeitando um efeito: “Cabaço.” Resultado, transei pela primeira vez nesse dia, ainda que tenha demorado outros dezessete anos para entender como uma coisa levou à outra.
Nem sempre é tão simples
Nos anos seguintes, os tempos lúbricos da faculdade de jornalismo, época dos primeiros contos ruins (os demais seguiriam ruins, mas pelo menos já não eram mais os primeiros). Lembro de um amigo desses anos.
Era um rapazinho todo dado a pretensões heterossexuais, e que talvez até pudesse ter vingado na cisma, não fosse o capricho de ter conhecido o.... Ah, o acaso: quando fomos ver, em pouco os dois já estavam casados, vivendo mais gays do que nunca, mais tarde um filho lindo a celebrar a união.
Nos anos seguintes, o gente boa seguiu sabendo do sexo feminino só o que sabia dos Anéis de Saturno, isto é, tudo de ouvir contar — e a coisa seguiria assim, não fosse... não fosse um novo capricho do acaso, dessa vez o súbito desejo de experimentar, na vida adulta, o que não havia vivido na juventude.
Em tom de brincadeira, comentou a coisa com uma amiga em comum, ela também já casada nos mesmos moldes, feliz com a sua companheira, os filhos de ambos os casais colegas de escola... Em resumo: quando viram, já estavam os dois no motel, o amigo e a amiga, ambos acabadíssimos de suor, sem saber o que dizer em suas casas — os dois sem pode acreditar, mirando seu reflexo atônito no teto.
Como era de se esperar, ocorreu o mais provável: acabaram não dizendo nada, nem ele, nem ela, de modo que, ainda hoje, pelo que sei à boca pequena, seguem perfeitamente acomodados em suas vidas paralelas, ele e ela felizes duplamente, tanto em suas casas quanto fora delas, tudo na — ora, e sejamos sinceros sobre isso — tudo na Santa Paz do Senhor. E da Senhora.
Aqui, um diálogo
Falando em paz, lembrei dessa conversa, entreouvida certa vez.
— A paz só será alcançada por meio da absoluta liberação sexual.
— E quanto aos que não quiserem a paz?
— Esses nós vamos empalar.
Mas nem tão confuso
Para fechar e irmos logo para a cama, recupero o caso daquele gente boa que, de viagem pelo interior do estado, viu a placa do que parecia ser um salão de beleza:
TRANSAMOS E ENROLAMOS CABELO
Após conter o riso, decidiu entrar no estabelecimento para avisar sobre a troca do “ç” pelo “s”, disposto mesmo a ajudar.
— Não houve troca, senhor.