“Dói meu ouvido”, diz o conhecido, sabendo que sou professora de português. Ele procura uma cumplicidade comigo, depois de protagonizar uma cena explícita de preconceito linguístico. Um vendedor de água ou de chicletes vem oferecer suas mercadorias, diz “aí, dona, é água e balinha, é as melhó, três por cinco”. Meus ouvidos ouvem, não, obrigada, não compram; os ouvidos dele doem, e também dispensam os doces.
Noutro momento, numa festinha familiar ou de fim de ano, duas ou três pessoas conversam e uma delas pronuncia “gratuíto”, enquanto a outra concorda mal um sujeito e um predicado; a terceira usa impropriamente uma...