Velas, pipoca, rebuçados, pratos com flores murchas, com sacos de biscoitos velhos, fruta fresca, papelinhos dobrados com esmero com pedidos de graças e dádivas divinas. Quase sempre a uma temperatura de 40 graus à sombra, suando em bicas, estava a Rita, numa cadeira de espaldar alto, a dirigir sua microempresa especializada em causas sobrenaturais, em sua joint venture com o além, cujo break even havia sido alcançado já no primeiro dia.
Se um dia, Mercúrio retrógrado estivesse a passar por Gêmeos, Júpiter e Saturno a se encontrar em Aquário, Vênus em conjunção com Marte enquanto Urano estivesse de altas em seus deveres astrais, nada disso influenciaria o trabalho da Rita, a Nêga da Uruguaiana.
No estacionamento de uma igreja católica no centro do Rio, aquela mulher grandalhona, cuja pele brilhante de ébano parecia lambuzada em óleo, vestida sempre de branco rendado, vários colares coloridos, um turbante igualmente imaculado, o cabelo falso - às vezes longo liso, outras encaracolado voraz, também trançado virginal -, a voz grossa de quem fuma tabaco de pouca...