O primeiro livro de Antonio Martinelli, a ser lançado em breve no Brasil pela N-1, paira sobre a Pandemia do Coronavírus. Escrito na urgência dos primeiros meses do isolamento social, reflete, em 5 longos poemas, sobre a cidade de São Paulo, mas também sobre todas as periferias do mundo; parte da capital do Equador, mas percorre toda a América Latina; é sobre Manaus, mas também sobre a miséria empreendida pelos brancos aos povos ameríndios; volta-se para o velho mundo mas é para mostrar a falência do homem moderno, não sem apontar uma saída possível. Confira, com exclusividade, alguns versos do primeiro poema.
Antonio Martinelli é jornalista, poeta e gestor cultural. Desde 2005, trabalha no SESC São Paulo. Foi curador e coordenador do projeto "Brasil, país homenageado na Feira do Livro de Frankfurt", em 2013, na Alemanha.
Brasilândia, Zona Norte
para Dione Carlos
No fim de um mundo
há Brasilândia, João.
No fim de um mundo
há vida, há precariedade,
há vida...
No fim do mundo,
há um quarto de despejo,
bairro de lata
ferro areia
casas de taipas
madeira zinco eternit
e estômagos colados, Carolina.
Brasilândia, zona norte
não tem baile
para os sem trabalho,
não tem roda
para os sem bico.
- não tem pancadão -
nem entrudo ou carnaval,
a peste chegou
- disseminando desigualdades
revelando precariedades -
na quebrada:
Brasilândia já não canta!
[Sei que cidades telegrafam
misérias, João,
pedindo máscaras
respiradores
e cestas...