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A Torre de Palha

Foto: campo de feno



2019-06-28

Fiara todas as linhas de pensamento, lera todos os tratados da esfera, mas tinha as suas próprias concepções. Válidas, lúcidas. E provadamente duráveis. Sabia, por exemplo, que deus era apenas uma recordação de berço. E que as leis físicas existiam também na consciência. Mas conhecera apenas a resistência das pessoas à verdade.  Conhecera-lhes o medo, que é o mesmo que tanta outra coisa. Quando cursara filosofia, escrevera o seu Tabula Mendax, uma dissertação sobre lucidez, repudiada por todos os egrégios.

 

Era impossível distinguir um sorriso de um esgar cortado pelas lâminas sopradas no vento. Todo o rosto de Anton parecia sorrir ou ser uma soma de cortes horizontais feitos no lugar dos olhos e da boca.

A proa era um precipício andante. Uma falésia de cinquenta e cinco pés e cinco mil toneladas que se movia a nove nós, como uma chapa de aço pelas águas cruentas e gris. E Anton Møller estava na borda desse abismo, vertical e estóico, com o corpo acostado ao céu e à espera de uma brecha por onde trespassasse um doloso e miúdo sol. E...

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João Pedro Porto

João Pedro Porto (Açores, 1984) tem, até à data, quatro romances publicados, O Rochedo que Chorou (2011), O 2egundo M1nuto (2012), Porta Azul para Macau (2014) e A Brecha, que saiu com a chancela da Quetzal em 2017 e foi finalista do Prémio Casino da Póvoa - Correntes d´Escritas. Tem, também, publicados dois livros de contos, O Homem da Mansarda (2014) e Fruta do Chão (2018).




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