Durante todo o mês de maio celebra-se a Língua Portuguesa na revista Pessoa. Com a palavra, hoje, a escritora Claudia Lage
Eu perdi a vontade de dançar.
Foi numa tarde, um dia como qualquer outro.
(Não é verdade, nunca perdemos algo num dia qualquer).
Chovia, fazia sol, ventava. Acordei com aquele sentimento, como se não esperasse nada. Comi pão, bebi café. Nem pensava, estava desavisada, porque todas as coisas já tinham passado. Mas, em algum momento, quando.
Quando os neurônios se desconectam, os músculos desistem? Quando a música silencia, os sentidos não reagem?
Cheguei a balançar o corpo para um lado, para o outro. Um pêndulo sem força, um pêndulo falso.
Eu morri aquele dia. Ou não, foi em outro.
Nasci em outro país, outro nome.
Como fui chamada...