Ressalvado o desnível abissal dos estilos – pois Márcio Souza escrevia num tempo em que se tornava permissível desconhecer regência, pronomes oblíquos etc. –, Mad Maria (1980) é uma espécie de modesta versão amazônica de Os sertões (1902), de Euclides da Cunha. Nascido em Manaus, Souza aprofunda nesse livro que é também o nosso Coração das trevas a abordagem crítica da colonização (melhor se diga: pilhagem) da floresta equatorial, seu tema por excelência desde o trabalho como roteirista, em que, por exemplo, adaptara para o cinema o romance A selva (1930), do português Ferreira de Castro.
O título é uma metonímia, como também a própria abordagem dessa epopeia do capitalismo selvagem que foi a construção da ferrovia Madeira-Mamoré, ligando Porto Velho a Guajará-Mirim, na fronteira do Brasil com a Bolívia. O projeto, esboçado ainda na época do Império, foi concretizado no início do século XX, quando uma emblemática concorrência fraudulenta o entregou a Percival Farqhar, protótipo e personificação dos negócios transnacionais estadunidenses.
Mad Maria foi o apelido dado pelos funcionários americanos à...