Terceiro romance de Erico Verissimo, Caminhos cruzados (1935) já contém todos os ingredientes da técnica narrativa que faria dele o escritor brasileiro mais feliz na síntese entre as principais qualidades da boa ficção: profundidade e legibilidade. O livro realiza com mestria aquele tipo de corte transversal que, reduzindo as pretensões absolutistas a que chegaram certos autores do século XIX, oferece ao leitor não a totalidade, mas uma visão sintética dos homens e da sociedade.
O enredo de Caminhos cruzados se resume a cinco dias de uma semana em Porto Alegre, então com cerca de 200 mil habitantes. Nessas coordenadas, movimentam-se uns poucos núcleos de personagens grandemente representativas da condição humana em uma cidade brasileira nos anos 1930. Sobressaem, como notas mais fortes, as personagens que são alvo da sátira social e/ou da análise psicológica.
Teotônio Leitão Leiria e Dodó, por exemplo. Ele é a caricatura perfeita da hipocrisia burguesa; ela, a contraparte papa-hóstia dessa hipocrisia – a caridade de fachada, no fundo...