O casarão de esquina ia abaixo. Em seu lugar, duas torres rentáveis, metro quadrado a valor de avenida Paulista. Um movimento rápido de pessoas lúcidas, a casa é tombada como bem de Estado. O jardim se sobrepõe, as rosas dão nome à casa, que foi galeria de arte, tornou-se casa de Haroldo. Haroldo de Campos: não sou íntima, mas sou leitora. Do que mais gosto dele é a transcriação do Eclesiastes. Qohélet, O-que-sabe, e diz ser “névoa de nadas, tudo névoa-nada” o afã do homem sob o sol. Existir, enquanto humano, é tarefa interminável, contínua e sem sentido. Vaidade das vaidades, tudo o que fazemos. Melhor seria, Haroldo?–, arrancarmos as rosas, que tanto trabalho dão pra criar, virarmos lesmas. Também nessa condição deixaríamos marcas sobre a terra e reconheceríamos que ser poeta não é fatalidade nem escolha. É ofício, um ofício a serviço da falta. O poeta carrega um caco de ladrilho sem parede onde colocá-lo.
A poesia não admite...