Entre estatura de pai e ambição de mãe, navego. Por rios, já que o mar abraça o mundo e meu pai me advertiu desde cedo sobre isso de abraçar o mundo com as pernas. O rio vaza e continua a encher-se com águas vindas da cabeceira, de uma nascente que nem se sabe, ela própria, que logo abaixo, além de fio, já é rio. Quando soube que o corpo pedia tinta para ser alma? Quando soube desse fluxo insensato, exigente, pedindo linha e corrente? Já seria tarde para o muito a fazer, poucas escolhas a desfazer. Restava deixar a cabeceira, encorpar, seguir caminho, por remansos, socavãos, pedras convulsas, gargantas. Rio não é saber nadar, sussurra um anjo, sabedor de rios físicos e fugitivo de outros, esses, regados a tinta, em que me bebo de mim, entintada. Poderia ser outra a matéria em que o corpo soubesse da unidade necessária? Fosse barro, por exemplo, poderia fazer-me de barro, e me atiraria...