Para Márcia Caetano e Danuse Pereira Vieira
Em Suíte Havana, filme de Fernando Pérez, um dos movimentos que encanta o espectador está no culto a John Lennon. Junto ao monumento do cantor numa praça entre as avenidas 17 e 6, no bairro do Vedado, um cubano monta guarda, dia e noite, noite e dia, chuva ou sol, frio ou calor.
Nas tantas vezes em que fui a Havana, nunca consegui ir ao parque. Dessa vez decidi que não me acomodaria à pressa ou à inércia, e terminado o Congresso Lectura 2013 – para Leer el XXI – fui até lá. Lennon de bronze, o banco, a calçada com os versos célebres. Rapidamente surgiu o vigia, a encaixar os óculos nos orifícios da fronte do cantor, aprontando--o para as fotos, que logo tiramos.
Em minha consciência, latejava a resposta que em algum momento ouvira. Por que, nesta ilha, montar guarda a uma estátua de Lennon?
“Para mostrar que aqueles que foram castigados por ouvir os Beatles ainda estamos aqui, e não nos esquecemos de nada.”
Em Cuba, nos anos 60, ouvir os Beatles foi motivo de expulsão da universidade para muitos alunos. Mais tarde o sistema alegou não ter conhecimento do que sucedia. Neste ano de 2013, me pergunto se um dia em meu país se dará o mesmo, os governantes dizendo que nada sabiam sobre a ação violenta da polícia na repressão aos movimentos das professoras, no Rio, em São Paulo.
A crônica aqui publicada no último dia 15 não teve menção ao dia do Professor. A chaga estava tão aberta que as palavras jorrariam, sangue e pus. Ainda que viva com ramos de indignações entre os braços, tomo a palavra como método e gérmen. No compasso entre Suíte Havana e o que ouvi em terra alheia, encontro a sentença para este momento.
“Ainda estamos aqui, ingratos governantes, e não nos esquecemos de nada.“
Os baixos salários, as desconsiderações, o desprezo, o tratamento de criminosas, spray de pimenta na cara, processo por abandono de emprego em tempo de greve justa, a ordem da polícia para bater muito, conforme advertiu uma colega, mãe de policial, a outras, que iriam para as ruas.
Elas foram, apanharam. Em suas manifestações, afirmavam, convictas: “Estamos aqui para mostrar que aquelas que foram castigadas por formar pessoas com consciência e dignidade continuam a fazê-lo, sem nada esquecer”.
Parabéns pelo Dia do Mestre, Mestras. Um dia, estátuas moldadas em bronze, sentinelas vivas velarão por nós.